Mulheres que apresentam a síndrome dos ovários policísticos (SOP), um problema ginecológico comum, têm um risco até seis vezes maior para o desenvolvimento de outra síndrome: a metabólica, caracterizada por fatores como gordura abdominal e pressão alta – um quadro que deixa a paciente mais vulnerável às doenças cardiovasculares.
A conclusão é de um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), divulgado na última edição da publicação científica Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Um dos achados mais interessantes foi a constatação de que a associação entre a SOP e o risco aumentado para síndrome metabólica existe até mesmo nas pacientes com peso adequado.

Pesquisadores analisaram 332 mulheres de 23 a 29 anos. Das voluntárias, 146 tinham o diagnóstico de SOP, doença caracterizada pela presença de microcistos no interior do ovário e que tem como sintomas alterações menstruais, aumento de pelos no corpo, acne, cabelo e pele oleosos, além de dificuldades para engravidar. Cerca de 13% das mulheres em idade reprodutiva apresentam a disfunção.

As participantes dos dois grupos, portadoras e não portadoras de SOP, foram divididas por faixas de índice de massa corpórea (IMC): peso normal, sobrepeso e obesas. Os pesquisadores investigaram todas as voluntárias para a presença de síndrome metabólica. Entre as obesas, as que eram portadoras de SOP apresentaram uma frequência de síndrome metabólica seis vezes maior do que as que não tinham ovário policístico. Relação semelhante foi encontrada nas mulheres com peso ideal. Nesse extrato, as portadoras de SOP tinham três vezes mais risco de ter também a síndrome metabólica em comparação ao grupo de controle.

Professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP-USP e uma das autoras da pesquisa, Paula Andrea Albuquerque Salles Navarro ressalta que este é o primeiro estudo sobre o tema que avaliou a população do sudeste do País. “É importante estarmos atentos para a frequência alta da síndrome metabólica nas pacientes com SOP. A população do estudo é jovem e ainda deve viver dois terços da vida tendo repercussões dessa síndrome”, diz. Estudos futuros podem determinar a eficácia de se fazer a pesquisa para síndrome metabólica não só nas obesas com SOP, mas também nas não obesas.

Segundo o ginecologista Rodolfo Strufaldi, professor da Faculdade de Medicina do ABC, as pesquisas têm mostrado que a SOP é uma doença que atinge muito mais do que o ovário. “É uma doença metabólica, que traz uma deficiência enzimática no metabolismo dos hormônios e que favorece a resistência à insulina”, explica. A resistência insulínica desencadeia o aumento da glicemia e do triglicérides, além da diminuição do colesterol bom. Esses são justamente alguns dos fatores que caracterizam a síndrome metabólica.
O tratamento da SOP envolve adoção de dieta hipocalórica, prática de exercícios e, em alguns casos, a administração de contraceptivos. Caso já exista uma situação de resistência à insulina ou de hipertensão, cada um desses sintomas deve ter tratamento específico.

Fonte: JORNAL DA TARDE – SP